quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Violência doméstica e familiar

A propósito de um oportuno post do blog Anónimo, aqui vai um comentário sobre o tema:

Acho muitíssimo oportuno que o tema seja debatido e repensado, pois a violência doméstica é um dos problemas recorrentes de uma sociedade em perda acentuada de valores.
A partir dos anos sessenta/setenta do séc. passado, em especial nas camadas da população menos idosa foi-se implantando a ideia de que bater na mulher era não só estúpido e inadequado como uma autêntica desonra para qualquer marido.
Com a mentalidade estruturada nessa época e neste aspecto não precisando de qualquer revisão, continuo a pensar sem sombra de dúvida que bater na mulher é estúpido, idiota, inadequado – e sim, é mesmo uma autêntica desonra para qualquer homem que se preze.
Há que acentuar isso.
Trabalhei num tribunal de família e conheci bem o fenómeno da violência doméstica – é um flagelo e abrange todas as zonas da sociedade, desde o trolha que chega a casa bêbado e bate na mulher porque lhe dá gosto bater “naquilo que é dele”, até ao empresário topo-da-gama que aparece nas revistas cor de rosa e nas recepções da moda, que usa e abusa do seu poder e chega também à agressão física da mulher e dos filhos (e garanto que não estou a fazer uma suposição, estou a falar de casos concretos que conheci), passando por todos os outros escalões da sociedade.
É uma vergonha e chega a ser vexatório para mim, como homem, ver outros homens a tomarem posições mais ou menos irónicas e quase sempre marialvas e machistas, sobre a violência, mostrando bem a sua má formação e o seu mau carácter.
É altura de tomar uma atitude colectiva contra essa barbárie que tem vindo a aumentar nos últimos anos.
Aqui deixo algumas sugestões no sentido de serem reflectidas pelos leitores:
1.O crime de ofensas corporais em ambiente familiar e dentro de casa deve assumir as características de crime público (não sei se é ou não, sei que houve polémica sobre isso).
2. Toda e qualquer autoridade policial ou judiciária que no exercício das suas funções deparar com esse tipo de ilícito deve participar a situação ao Ministério Público com vista à propositura da respectiva acção penal.
3.Essa obrigação verifica-se em todas as áreas e jurisdições: cível, criminal, laboral, administrativa, constitucional, etc.
4.A reincidência nesse crime deve sempre ser punida com pena de prisão efectiva, sempre e expressamente sem haver lugar à suspensão da pena ou à sua redução.
5.A pena a aplicar deve obrigatoriamente contemplar um período de observação e diagnóstico por técnicos de segurança social no período da prisão e no período imediatamente subsequente, com vista à adopção de medidas preventivas do cometimento de novos crimes.
Talvez assim se controle um pouco melhor as verdadeiras bestas quadradas que alguns homens trazem dentro de si.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Parar para pensar



Quando iniciei este blog estava cativado pela ideia aparentemente simples de poder debater coisas interessantes sem ter que dar às afirmações o peso (ou a falta dele) da identidade de cada um.

Como outra ideia central era a leitura de livros e o debate sobre eles, e como uma das obras literárias que mais me marcou foi o “Cem Anos de Solidão”, em homenagem ao grande GGMarquez adoptei o nick de “100anos”.

Volvidos uns poucos de anos, o panorama mudou totalmente e os dados de análise encontram-se substancialmente alterados:

O anonimato deixou de ser uma forma simpática de alguém se apresentar sob um nick dizendo coisas inteligíveis/inteligentes e passou a ser uma capa espessa destinada a esconder a identidade de quem faz afirmações temerárias e por vezes soezes e insultuosas.

A troca de ideias sem troca de identidades começou a mostrar-se cada vez mais precária – em vez de dialogarmos com uma pessoa passamos a dialogar com o estereotipo que construímos de uma série de pessoas.

Os conteúdos andam cada vez mais pobres e desinteressantes.

Andamos todos cinzentos.

A blogosfera está cada vez menos interessante - o comentador Pacheco Pereira exagera a severidade do seu juízo sobre os blogs, mas não deixa de ter uma ponta de razão quando defende que boa parte do que se escreve na blogosfera merece ir directamente para o lixo.

Por tudo isso justifica-se uma cautela mínima: parar para pensar.

É o que vou fazer, esperando que as minhas meninges não entrem em curto-circuito.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Aviso


Apanhei esta na net:

"Devido às quebras de bancos, queda nas bolsas, cortes no orçamento, à crise nos combustíveis e pelo racionamento mundial de energia, informamos que a famosa "luz ao fundo do túnel" está temporariamente desligada"

Comentário: pessoalmente, há muito que a vejo "por um canudo".

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A eleição de Obama

Uma das notas que para mim parece mais saliente na eleição de Obama tem sido muito pouco tocada, surpreendentemente: o povo norte-americano (sim, norte-americano e não simplesmente americano, pois povos americanos há muitos e variados e nem todos gostam de ser confundidos com os discípulos do Tio Sam) mostrou que é adulto e tem memória, coisa que os povos europeus têm grande dificuldade em mostrar.
E mostrou que é adulto e tem memória porque claramente que não perdoou ao presidente cessante a tremenda aldrabice em que fundou a sua iniciativa de invadir o Iraque e afundar os States numa guerra mais funesta que a do Vietnam.
Os norte-americanos sabem hoje que foram aldrabados com todas as letras e não perdoaram isso a um republicano, como não perdoariam a um democrata ou a qualquer outro cidadão de qualquer outra tipologia política.
Os meus caros leitores lembram-se que em Portugal o candidato do PS às legislativas prometeu que não ia aumentar impostos ? E lembram-se certamente que depois, com base num relatório do Banco de Portugal feito à medida pelo amigão que lá está, o governo subiu drasticamente os impostos, fazendo ipsis verbis aquilo que expressamente se tinha comprometido a não fazer ?
Bom – e agora digam-me: quem é que se lembra disso e quem é que vai penalizar aqueles meninos em sede de eleições pela aldrabice ?
Quantos portugueses lêem jornais ?
E desses, quantos determinam a sua opção eleitoral por aquilo que lêem ?
Pouquíssimos, diria eu.
A esmagadora maioria dos nossos concidadãos tem a cabecinha formatada pelas televisões e as televisões obedecem a lógicas de poder económico/político que pouco têm a ver com informação, tendo muito mais a ver com propaganda.
E parece que por essa Europa fora o panorama é semelhante.
É nisso que os norte-americanos são diferentes: são mais adultos, têm mais memória - refiro-me, naturalmente, aos 52% que votaram Obama, os 47% que apesar de tudo votaram republicano são para esquecer.