quarta-feira, 31 de março de 2010

Folar de Páscoa

Folar transmontano de carne - Folar de Páscoa
(também conhecido por Bola ou Bola de Páscoa)

INGREDIENTES

- fermento de padeiro - uns 50 gr.
- farinha - 1,5 Kg.
- ovos - 12 + 6 que sejam bons
- azeite - 1 chávena normal cheia (o azeite tem que ser Extra)
- margarina - 400 gr.
- sal refinado q.b. (1 colher das de chá)
- presunto - 600 gr.
- bacon - 400 gr.
- chouriço - 400 gr.
- açúcar - 2 colheres das de chá

MODUS FACIENDI

- dissolver o fermento em pouco menos de 1/2 copo de leite bem quente;
- pôr as duas colheres de açúcar;
- tapar bem, com 1 pano de cozinha, e deixar levedar 1 h. ou 1,5 h.;
- derreter a margarina;
- pôr e bater numa tigela os primeiros 12 ovos;
- acrescentar o azeite, margarina já derretida e o fermento já levedado (a margarina de pois do azeite e aos poucos, para não cozer os ovos);
- pôr o sal;
- começar a pôr a farinha a pouco e pouco, mexendo sempre à mão (eu aqui utilizo a batedeira mas o final da operação com a massa implica sempre acabar de batê-la à mão);
- tem que se bater com a massa na mesa com força;
- ir fazendo sempre assim, até ficar uma massa mole e a despegar-se da mão;
- depois de bem batida, tapa-se bem, com um pano de cozinha embrulhado num cobertor e deixa-se ficar a levedar mais um bocado (1 ou 2 horas, consoante fôr crescendo);
- cortar bem as carnes (fatias finas);
- untar os tabuleiros com margarina;
- estender a massa nos tabuleiros numa primeira camada;
- pôr as carnes já cortadas;
- pôr a segunda camada de massa;
- põe-se por cima ovo batido (os últimos 6 ovos);
- deixa-se crescer mais um pouco;
- vão ao forno os dois tabuleiros, um de cada vez;
- põe-se no forno um fogo brando e depois de o folar crescer bem, pode-se levantar um pouco o lume, mas nunca muito, senão queima por fora e fica cru por dentro.

Notas:
Receita de Abril de 1996, com achegas de Abril de 1998;
Esta receita está testada e funciona, já a usei e o resultado é excelente - o segredo está em deixar a levedura e a massa fermentarem devidamente.
Obrigado, Mãe, mais uma vez.

terça-feira, 30 de março de 2010

Cromos "chincaneiros"

À atenção dos cromos que confundem “chicana” com “gincana” e inventaram a palavra “chincana”.
Estão quase a re-inventar a “chicane” - sequência de curvas em formato de "S" utilizada para diminuir a velocidade dos veículos em automobilismo, localizada geralmente após uma longa recta.
Cuidado com as curvas, quando não, estampam-se na primeira oportunidade.
Chincaneiros...

terça-feira, 23 de março de 2010

Queixa das Almas Jovens Censuradas



Queixa das Almas Jovens Censuradas
Lembrado em boa hora pelo Jama aqui.

QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS
Natália Correia in “Dimensão Encontrada”

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.

domingo, 7 de março de 2010

Obrigado, meu capitão


Costa Martins já era coronel quando ontem morreu num acidente de aviação, mas para mim e para muitos outros que conheceram a sua acção logo a seguir ao 25 de Abril, será sempre o capitão Costa Martins.

Não sei as circunstâncias em que tal aconteceu, é cedo para quaisquer conclusões.
Mas não é cedo para enaltecer o papel deste militar no 25 de Abril, hoje olhado “de lado” por muitos democratas de fresca data, daqueles que nem sonham o que foi fazer oposição à ditadura.
Obrigado, capitão Costa Martins, o senhor ficará para sempre na memória dos anti-fascistas de sempre, com um lugar reservado nos nossos afectos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Hino à mentira - Estado do Sítio

No meio deste imenso pântano não há uma alma caridosa que diga aos indígenas que esta miséria veio mesmo para ficar.
O espectáculo continua muito animado, embora os actores sejam de uma maneira geral inqualificáveis. O senhor presidente relativo do Conselho, o chefe, já nem se importa que o chamem, a torto e a direito, de mentiroso. Já é uma banalidade e não passa pela cabeça de ninguém, por exemplo, dizer que o senhor falta à verdade.
O senhor procurador-geral da República vai pelo mesmo caminho. Poucos acreditam no que diz ou escreve, a confusão aumenta todos os dias e o conselheiro que o Governo foi buscar ao Supremo Tribunal de Justiça já concorre com o senhor presidente relativo do Conselho, o chefe, neste inenarrável concurso de mentiras que ocupou o horário nobre das televisões, as primeiras páginas dos jornais e a abertura dos noticiários das telefonias. Neste cenário cada vez mais pantanoso, os partidos discutem animadamente o Orçamento do Estado para 2010, um documento em que pouca gente acredita, e esperam ansiosamente pelo Programa de Estabilidade e Crescimento que o Governo anda a preparar há imenso tempo no segredo dos gabinetes.
Toda a gente sabe que o famoso PEC irá ser entregue em Bruxelas com pompa e circunstância, apoiado fervorosamente não só pelo partido do chefe como pela oposição de direita, CDS e PSD, independentemente de quem ganhar a corrida para a liderança dos sociais-democratas. A Pátria, dizem todos em uníssono, assim o exige. Mas os indígenas já desconfiam da borrasca que os vai apanhar em cheio se não fugirem rapidamente deste sítio pobre, manhoso, hipócrita, corrupto e, obviamente, cada vez mais mal frequentado.
Os salários vão baixar, as reformas ficarão ainda mais miseráveis, o desemprego não vai parar de crescer, a economia continuará a rastejar e o endividamento das empresas, das famílias e do Estado atingirá níveis que nem os mais pessimistas conseguiram adivinhar. No meio desta imensa desgraça, com muitos consensos e discursos patrióticos cheios de mentiras, não há uma alma caridosa que explique aos indígenas que esta miséria, que nem chega a ser franciscana, veio mesmo para ficar. No meio deste imenso pântano económico, social e político não há uma alma caridosa que explique aos indígenas algumas coisas simples sobre as suas vidas nos anos que aí vêm. Vão ficar mais pobres e nem de TGV conseguirão atingir os níveis de vida europeus. Antes eram pobretes mas alegretes. No futuro serão ainda mais pobretes e só os parvos continuarão alegretes.