segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Assim começou...

Nesse Verão esteve um calor esbraseante.
Eu era adolescente e andaria pelos 15 a 17 anos.
Apanhei-me em férias e comecei a ler furiosamente tudo o que me chegava à mão (tinha descoberto há pouco tempo que havia literatura clandestina, proibida pelas autoridades, que era naturalmente a mais gostosa).
Várias pessoas que eu conhecia, adultos por quem tinha grande consideração, falavam dos “Cem Anos de Solidão” como um marco da literatura, escrito por um homem de esquerda que no Portugal de então não seria pessoa benquista.
Arquivei a informação.
Numa saltada a uma livraria descobri uma edição do livro – salvo erro da Europa-América – que comprei imediatamente.
Voltei para casa a meio da tarde, fui para o meu quarto e toca de ler, ler, ler.
Não me lembro do jantar desse dia, só me lembro de estar outra vez no meu quarto a ler.
Não parei até acabar.
Ou seja, não dormi até ao dia seguinte.
Nessa manhã quando dei por mim, excitadíssimo com a leitura, senti-me esquisito.
Fui por um termómetro – tinha febre, embora baixa.
Compreendi então que as sensações podem ser tão fortes que acabam por provocar consequências orgânicas.
Depois, com mais calma, reli várias partes do livro.
Assim começou a minha relação de admiração e de encantamento com esse homem portentoso que é Gabriel Garcia Márquez.

1 comentário:

  1. Já li o Amor em Tempos de Cólera, mas preciso de o reler para emitir alguma opinião sobre ele, sinal de que não me deixou uma impressão muito viva.
    Creio que os grandes autores por vezes acabam por ficar reféns das suas obras maiores: ninguém consegue ler Garcia Márquez sem ter em consideração que ele é o autor de Cem Anos de Solidão, daí que a expectativa seja sempre enorme, correndo o risco de sair defraudada.

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