domingo, 4 de março de 2007

Contos Estelares - IX

Capítulo III

Rumo a Andrómeda


A princípio quase não se deu por nada, mas a nave Poseidon tinha acabado de partir para a grande viagem.
Como viajava próxima da estação espacial, ambas à velocidade da luz, a desaceleração da Poseidon só longos momentos depois de ser accionada foi realmente percepcionada – muito lentamente, a nave afastava-se da estação, ficando para trás.
A Poseidon tinha que se afastar bastante da estação antes de accionar os motores Erkhart, por razões de segurança; a estratégia era deixar-se ficar para trás algumas dezenas de milhares de quilómetros e assim se foi fazendo.
Dois dias-padrão depois a estação espacial era já um pontinho luminoso confundindo-se com as estrelas à distância.
“Atenção, estação, daqui Poseidon requisitando relatório”, ouviu-se a voz de Neves na sala de comando da estação.
“Estação espacial em linha e falando” respondeu Marta, “tudo normal e dentro do previsto – a vossa nave já só pode ser vista através de computação de imagem, aqui na estação prossegue a rotina”.
“Como previsto, vamos entrar em velocidade hiper-luminosa – assim que entrarmos em hiper-luz só poderemos comunicar com as limitações do interface Erkhart”, prosseguiu Neves.
“Todos preparados aqui na estação”.
Neves manobrou a Poseidon de forma a que esta ficasse com o extremo da proa voltado para Andrómeda até estabilizar a nave nessa direcção.
“Nave estabilizada, atenção à tripulação, parar toda a actividade, deitar nas camas dos camarotes dentro de meia hora ou em alternativa nos nichos de aceleração da sala de comando”, comandou Neves pelo intercomunicador.
Todos os astronautas preferiram assistir à aceleração na sala de comando.
“Atenção, vai começar a hiper-velocidade”.
Sentiu-se uma poderosa força que colava literalmente os astronautas aos nichos, ao mesmo tempo que um ruído quase em ultra-som se fazia sentir mais e mais, aumentando o volume à medida que a velocidade aumentava.
A certo momento estava uma barulheira infernal, com os astronautas esborrachados contra os nichos.
Subitamente ouviu-se como que um tiro de canhão e voltou o silencio, desaparecendo gradualmente a sensação de velocidade.
Mas os visores não mentiam – indicavam já o algarismo 20, o que significava que estavam a 20 vezes a velocidade da luz – 300.000 km por segundo vezes 20 – 6 milhões de Km por segundo !
“Todos se sentem bem ?”, indagou Cleópatra, que tinha junto às suas outras funções a de encarregada do departamento da saúde.
Todos se sentiam bem, tirando algumas palpitações já previsíveis originadas pelo barulho e pela sensação de aceleração que tinham experimentado.
Quando estabilizou a sua hiper-velocidade a nave já tinha deixado para trás há muito a estação, que ultrapassara pouco depois de ter iniciado a aceleração.
Os astronautas entreolharam-se com alguma timidez – a proximidade física era coisa a que estavam pouco habituados nos últimos anos.
Nina dissipou a tensão com uma simples pergunta a Cem “sabes cozinhar outras coisas além da feijoada ? se quiseres fazer um petisco para a confraria creio que seria bem-vindo”.
“Claro”, respondeu Cem, "dêem-me meia horinha e já vos apresento coisa boa” e saiu para a cozinha.
Meia hora depois soou o ding-dong do chamamento ao refeitório, de onde vinha um cheirinho a petisco iniludível.
“Resolvi apresentar-vos um petisco especial, um caril de soja vegetariano a que pode ser acrescentado condimentação diversa”.
Todos comeram, com uma canção dos Bee-Gees em fundo ("I started a Joke"), preparando-se para a solidão que vinha a seguir, pois estava programado que naquela fase cada um iria para o seu camarote e tentaria dormir tudo quanto pudesse.
(continua)

2 comentários:

  1. Ainda não li o post... mas venho já aqui dizer que estou com um sorriso enorme e a cantar....
    ... esta canção... maravilha... tantas e tantas vezes a cantei.

    Um dia, quando perder a timidez, conto com quem cantei quando era jovenzinha... em ensaios 'na garagem'. Achavam-me piada... acho eu... e à minha alegria contagiante. Hoje eles são uma das grandes bandas portuguesas... :)

    ...
    Vou ler o post.

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  2. Eu não ouço canção nenhuma. Por baixo do título "Rumo a Andrómeda" há uma janelinha fechada com uma cruz vermelha. Não posso abrir. Também não ouço as canções de John Mayall. Lá está a mesma janelinha fechada com a cruz vermelha.

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