terça-feira, 6 de março de 2007

Contos Estelares - X

Into deep space

Cada um foi para o seu camarote instalar-se confortavelmente. O piloto automático, controlado pelo computador central, estava a trabalhar em pleno sendo desnecessário por enquanto cuidados humanos na navegação.
Augusta Nina recostou-se bem na cama, puxou de um livro de poesias e começou a sua leitura preferida; daí a pouco cairia num sono reparador, característico das almas justas.

Cleópatra preferiu ouvir música e colocou no aparelho de CD/DVD o inevitável Rodrigo Leão.
Pensativa, meditou no que tinha deixado para trás, não na Terra, mas na estação espacial – espaço à farta, pouco trabalho, sistemas automáticos ultra-sofisticados, comida boa a horas e descanso quando queria; sentia que tudo iria mudar agora - e não estava segura de que seria para melhor. Cleópatra estava muito contrariada por ter que partilhar responsabilidades com Funes e Cem; não era antipatia, até lhes achava piada, mas tinha a sensação fatal de que a sua inferioridade histórica de sexo fraco viria ao de cima cedo ou tarde e poderia trazer-lhes sarilhos a todos; o (mau) material tem sempre razão !, pensava ela, preocupada.
Funes escolheu três catrapázios de História contemporânea e retirou-se para os seus aposentos.

Neves já dormia no seu camarote, quando Cem se resolveu a deixar a sala de comando (tinha ficado até ao último momento, verificando e re-verificando a certidão das coordenadas do computador; não seria grave, mas seria desagradável ter que reajustar alguns graus a trajectória da nave, se a direcção inicialmente tomada não fosse inteiramente correcta.
Foi para o seu camarote e finalmente deitou-se: parecia-lhe mentira estar envolvido numa aventura daquelas como que por acaso. Pegou num livro, “O Enigma de Aristóteles”, tirou a roupa exterior ficando apenas com a roupa-pele (roupa finíssima que aderia ao corpo quase sem se dar por ela, feita de uma fibra que era uma mistura de algodão e linho, super-confortável), estendeu-se na cama com cuidado (a malfadada hérnia discal andava um pouco assanhada e ele tinha que tomar cuidados, dormindo sempre em colchão duro e de barriga para cima, sem almofada), ajustou o livro ao aparelho de leitura que tinha inventado uns anos antes – e começou a sua leitura terapêutica.
Durante o período de treino e preparação, tinham acordado em que a nave seria governada por um triunvirato em rotativismo, cabendo naquele momento o governo a Neves, Cleópatra e Funes; dentro de 1 mês Funes cederia o lugar a Augusta, dentro de 2 meses Neves cederia o lugar a Cem, dentro de 3 meses seria Cleópatra a ceder o lugar a Funes.

“Consegue ler ?”, indagou Cleópatra pelo intercomunicador.
“Bem, ainda não, mas não tarda; já coloquei o meu aparelhómetro e...”

“Pois é isso, Cem, creio que o ouvi dizer que tinha uma aparelho para leitura...”

“E tenho – construí-o na praia, a partir de um suporte de harmónica”.

“Você era capaz de me construir um aparelho desses ?”, perguntou Cleópatra um pouco a medo.

“Claro, Cleópatra, por acaso até tenho comigo mais um aparelho desses, o primeiro protótipo que fiz, espere aí que eu já lho dou” – passado pouco tempo Cem passou no camarote de Cleópatra e entregou-lhe o aparelho; explicou-lhe como funcionava e voltou aos seus aposentos.

Deitou-se e começou a ler.
Passado uma meia hora começou a sentir sono.
Antes de adormecer ligou o computador para ver se estava tudo em condições.

Tudo estava normal.
Na parte das mensagens internas viu uma mensagem de Cleópatra que lhe era dirigida e sorriu ao ler “reconheço a eficiência do seu invento; como é que se chama ?” Cem teclou rapidamente duas palavras: “Cem Letras”.
O silêncio foi tomando conta da nave – João Pestana poisou suavemente no tombadilho.

1 comentário:

  1. Cem passou no camarote de Cleópatra ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,bem, bem, bem

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