terça-feira, 20 de março de 2007

Contos Estelares - XIII

Estava Andrómeda muito bem posta em sossego...

A face nocturna do planeta dormia, com algumas excepções.
Alguns profissionais ligados à astronomia observavam excitados o enorme visor do telescópio apontado para o infinito.
Poucos dias antes um astrónomo estagiário tinha descoberto um sinal electro-magnético estranhíssimo vindo de uma zona estelar consabidamente vazia.
Depois de ter submetido o sinal a múltiplas experiências, o jovem astrónomo chegou à conclusão de que só uma entidade com inteligência o poderia produzir; na verdade, os impulsos eram rítmicos e repetiam-se pela mesma ordem: três pontos seguidos de três traços, de novo três pontos; depois de uma pausa recomeçava a mesma série.
O computador disparou no écran a constante conhecida correspondente à variável que o cientista introduzira:
3 pontos – S; 3 traços – O
A sequência - 3 pontos – 3 traços – 3 pontos – representava a sigla SOS.
O computador indicou que aquela era uma velha fórmula usada num planeta lendário para se pedir socorro.
Tratava-se do planeta Terra, que alguns “crentes” continuavam a defender que sempre existira nas proximidades do braço da espiral, rodando em torno de um sol que há pouco tempo se tinha tornado numa super-nova.
Havia mesmo quem defendesse que os homens de Andrómeda descendiam dos terrestres, o que ultrapassava toda a especulação conhecida e entrava pelo caminho do esotérico.
Nesse planeta existia uma língua bastante espalhada, que era o inglês – o SOS era o acrónimo da expressão inglesa “save our souls”, um pedido de ajuda universal.
Manolo, assim se chamava o jovem cientista estagiário, deu conta aos seus superiores do que se passava e estes começaram por dizer algumas piadas ao jovem, até que o Dr. Roldán, chefe do serviço de astrofísica do Observatório, se dignou examinar os documentos com mais atenção.
Descobriu quase de seguida que o jovem quase de certeza tinha razão.
De facto, para além dos sinais constantes e da explicação oferecida pelo computador, o próprio sinal electro-magnético se tornava mais forte de dia para dia; e quando chegou a mensagem “Olá – há alguém em Andrómeda ?” escrita naquele código de pontos e traços e vinda exactamente do centro da onda electro-magnética, Francis Roldán não teve dúvidas.
“Hombre, esto es magnifico” disse ele em castelhano ao jovem (quando se excitava Roldán disparava frases na antiga língua que chamavam castelhano, em vez de se exprimir civilizadamente em esperanto, como era normal).
Roldán quis responder imediatamente ao sinal, mas os seus companheiros seniores dissuadiram-no disso, pois além de não haver no Observatório um projector com força suficiente para enviar a mensagem, todos queriam saber mais acerca da inteligência que aí vinha antes de eventualmente se lhe abrir o jogo.
Na verdade todos sabiam que o sinal provinha de uma zona algures a 15 anos luz de distância, só podia vir de uma nave espacial – e só uma nave espacial com um potencial formidável seria capaz de emitir sinais a 15 anos luz de distância.
Uma nave que possivelmente podia destruir planetas.
(continua)

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