quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Contos Estelares - IV

"Desculpar-me-á, Cleópatra, mas eu não disse que concordo com o Cem, limitei-me a registar admiração por uma atitude corajosa, embora - acrescento agora - totalmente inconsequente", disse Funes, sibilinamente.
"Homens, são todos iguais e só pensam numa coisa", respondeu irritadamente Cleópatra, acrescentando sotto voce "não fazem nenhum e só pensam em carcanhol, os inúteis".
Toda a gente educadamente ignorou a tirada cleopatraniana.

"Continuas-me a pisar os calos, mas há-de haver um dia de libertação" pensou Cem com os seus botões, mais concretamente com os seus fechos éclairs, dado que o seu uniforme não tinha botões.
Por sugestão de Neves, todos anuíram a entrar em pseudo-sono profundo, ficando apenas ela acordada.
"Estou farta de dormir", explicou Neves, "já tive a minha conta, mas vocês estão cansados e desgastados; a minha sugestão é a de que toda a gente descanse enquanto for possível".
Antes, porém, foi necessário colocar em rede permanente todos os computadores, estabelecer sistemas de segurança automáticos para o despertar do pseudo-sono no caso de alguma coisa acontecer a Neves, corrigir trajectórias das naves mais excêntricas e programar os sensores para a detecção automática de sistemas habitáveis.
"E música ?", perguntou Cem.
"Música ?!", disseram várias vozes.
"Sim, música, amigos, é sabido que durante o sono o cérebro humano aceita estímulos; desde que esses estímulos sejam adequados, o sono só terá a ganhar em descanso e divertimento da pessoa em causa; eu, por exemplo, poderei programar o meu computador para me proporcionar música dos sixties, que é a que eu mais gosto, tipo Beatles, Stones, Hendrix, Neil Young, Eric Clapton".
Assim as futuras e os futuros Belas(os) Adormecidas(os) escolheram as suas músicas.
Augusta Nina escolheu entre outros Diana Kroll, Eric Clapton e muita música clássica.
João e Marta, jovens já nascidos na nave, escolheram música concreta.
Cleópatra escolheu algumas melodias em que avultavam as canções de um tal Frank Sinatra e pulou de fúria quando alguém disse "pimba, pimba" no intercomunicador, mas não se deu por achada; em surdina, optou ainda pelo
Michael Bublé e pelo Rodrigo Leão.
Funes escolheu os clássicos.
Todos sabiam que aquele soninho iria durar várias décadas...
Fim do capítulo I
(continua)

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